Gotham City

A noite era o domínio natural do Batman. Tamanha era a influência que ele exercia em Gotham sob o espectro da noite. Mas as nuances de Gotham sempre reservavam surpresas. Afinal, ele sabia bem que não era o único predador noturno à espreita em Gotham. E havia noites singulares em que - até mesmo - o Cavaleiro das Trevas tinha de lidar com o inesperado.
Aquela parecia ser uma daquelas ocasiões. Batman teve essa sensação quando seu antigo discípulo Richard Grayson, vulgo Robin, o contatou inesperadamente via rádio. Robin vinha atuando ao lado dos Jovens Titãs enquanto conciliava suas atividades heroicas com seus estudos na Universidade Hudson, o que afastou a Dupla Dinâmica.

- Batman! Você se recorda do Professor Carter Nichols? A Universidade de Gotham informou que o Professor não tem mais aparecido na instituição e que o laboratório dele foi vandalizado. Como ele era um velho amigo do seu pai, eu imaginei que você gostaria de averiguar o caso. Ainda estou em Nova York. Então eu não poderei te ajudar.

O laboratório do Professor Carter Nichols estava localizado fora do campus da Universidade de Gotham, pois seus experimentos demandavam privacidade. Afinal, o campo de estudo de Nichols era a viagem no tempo. No passado, Batman e Robin colaboraram com os experimentos de Nichols. O Professor Carter Nichols desenvolveu uma técnica que utiliza hipnose como um meio de deslocar fisicamente a matéria viva dentro do fluxo do tempo. Depois de estudar a teoria quântica durante longo tempo, ele refinou seu trabalho e criou sua própria máquina do tempo. Batman e Robin foram voluntários, comprovando o funcionamento da invenção de Nichols.


Ao chegar no laboratório, Batman notou que a porta não fora arrombada. Um indício de que o invasor utilizou outro meio para adentrar no local. O interior do laboratório estava mesmo em estado de caos. As máquinas do Professor Carter Nichols estavam todas depredadas e impossibilitadas de serem reparadas. Não havia vestígios de confronto, contudo. No ambiente, Batman encontrou um caderno de anotações utilizado pelo desaparecido Professor Carter Nichols para registrar os progressos de suas pesquisas. Nas últimas páginas, Nichols registrou que os raios hipnóticos, administrados pelo seu antigo protótipo, não eram mais necessários para o deslocamento temporal, pois foram substituídos por um dispositivo remoto. No entanto, não haviam descrições técnicas dos avanços de Nichols. Batman percebeu que páginas foram arrancadas do caderno. Provavelmente, as páginas nas quais Nichols escreveu seus cálculos e esboços.

Para um olhar desatento, as ações do Cavaleiro das Trevas em Gotham poderiam parecer aleatórias, ao acaso. No entanto, eram fruto de um extenuante trabalho de estudo de gráficos e tabelas, planejamento e ações coordenadas pra que  Batman pudesse coibir a violência tanto quanto pudesse. Obviamente, Batman não poderia cobrir Gotham inteira, 100% do tempo. Ele sabia disso, por isso precisava priorizar seu raio de ação. O contato de Robin vem informa-lo de algo que ele já sabia: sua rede de informação o havia deixado ciente da vandalização do laboratório de Nichols. O que Batman ainda não havia notado era o desaparecimento do velho amigo de seu pai. O contato de Robin chega a ele no momento em que Batman prendia um assaltante, deixando-o a merce da polícia de Gotham. Enquanto deixava o miliante amarrado e desacordado para os homens de Gordon, Batman responde a Dick:

- Irei investigar, Robin. Desligando...

Imediatamente, Batman dispara seu arpéu e parte rumo aos telhados imundos de Gotham. Batman se lembrava com perfeição onde se localizava o laboratório de Nichols, chegando ao local rapidamente e sem contratempos. Uma vez lá, Batman nota que a porta da frente estava destrancada, indicando que aquele provavelmente aquela não teria sido a via de acesso do invasor. A menos...
Numa investigação, era importante levar em conta todas as linhas possíveis de eventos. Talvez quem invadiu tivesse as chaves do local. Assim, Batman vasculha a fechadura e a maçaneta à procura de impressões digitais que pudessem revelar alguém suspeito. Perscrutando o local com o olhar, o Homem-Morcego nota que o local fora depredado, estando completamente destruído. No entanto, é possível notar que a destruição denotava busca, e não luta. O que levava Batman a uma conclusão: Nichols não estava no laboratório no momento da invasão. Isso levava a duas linhas investigativas: ou Nichols havia sido feito refém antes da invasão (e aí os captores já teriam uma ideia de o que e onde procurar) ou surpreendeu os invasores e foi capturado sem oferecer resistência.
A segunda teoria ganha força quando Batman encontra o bloco de notas de Nichols. Aparentemente, os raios hipnóticos agora não eram mais necessários para que a viagem no tempo fosse efetivada. O Detetive então nota as páginas arrancadas. Alguém além de Nicols havia manipulado o material. Rapidamente, Batman escaneia o  bloco em busca de impressões digitais e contata a Caverna:

- Alfred, sou eu. preciso que analise pra mim o material que enviei. Rode uma busca e veja se encontra alguma impressão digital que não pertença a Carter Nichols. Estarei aguardando seu contato.

Batman desliga o comunicador e passa a olhar a cena de uma forma mais ampla. Se o invasor tivesse usado alguma outra forma para entrar no laboratório, ele saberia...

Enquanto aguardava a análise do Batcomputador, o Cruzado Encapuzado esquadrinhou o ambiente em busca de minúcias que indicassem o método que o misterioso invasor utilizou para adentrar o laboratório do Professor Carter Nichols.  
Porém, não havia rastro de entrada. Aparentemente, o invasor simplesmente surgiu para dentro do laboratório como num passe de mágica. Talvez fosse um meta-humano. Ou alguém munido de tecnologia avançada.
A mente de Batman formulava diversas teorias a partir daquela constatação, mas seu fluxo de pensamentos foi interrompido pela voz de seu fiel escudeiro, Alfred, que então informava o resultado da comparação de digitais feita pelo Batcomputador.


O tom da voz de Alfred mesclava sinais ambíguos de ceticismo, curiosidade e espanto. O próprio Alfred parecia não acreditar no que estava prestes a relatar. Se não tivesse programado as especificações do Batcomputador pessoalmente, o Batman também teria dúvidas.

- Patrão Bruce, havia uma digital que não pertencia ao Professor Carter Nichols, mas o computador não foi capaz de fornecer uma identificação conclusiva. Segundo a análise, as digitais apresentam sinais severos de envelhecimento, como se o suspeito tivesse envelhecido dezenas de anos.

Como um estudioso dos procedimentos forenses, Batman estava ciente de que digitais envelhecem e sofrem modificações com o passar do tempo, mas os principais traços persistem, permitindo assim uma identificação positiva. Quantos anos seriam necessários para alterar digitais até aquele ponto? E quem seria capaz de viver tanto tempo?

De imediato, Batman extraiu de sua memória os nomes de notórios criminosos que teriam condições de burlar o tempo daquele modo. Mas Alfred ainda tinha mais uma informação para compartilhar.

- Patrão Bruce, eu solicitei que o Batcomputador verificasse ocorrências similares. Recentemente, a Universidade Ivy informou que o laboratório do Professor Alpheus Hyatt foi depredado e que o mesmo encontra-se desaparecido. O campo de estudo dele também é a viagem no tempo. Por acaso, Hyatt é amigo e colaborador de um físico que pertence ao seu círculo social, patrão Bruce. Imagino que não se esqueceu de Ray Palmer. Talvez o Senhor Palmer saiba de mais detalhes. O patrão estava mesmo precisando de um pouco de socialização.

Nesse ramo, não existem coincidências. Batman sabia bem disso. Outro cientista teve sua pesquisa avassalada. Outro cientista desapareceu misteriosamente. Outro cientista ligado a um integrante da Liga da Justiça. Uma coisa era certa. Aquele caso abrangia mais do que Gotham City.

Aquela era realmente uma situação inusitada. Ao que parecia, quem esteve no laboratório de Nicols poderia, de alguma forma, se "materializar" no ar. Mas o que realmente intriga Batman é a condição da impressão digital encontrada. Um desgaste do tipo encontrado por Alfred indicaria alguém praticamente beirando os cem anos, quase incapaz de se mover, quanto mais invadir e depredar um laboratório. Pensando em tentar descobrir a identidade de dono da impressão digital, Batman transmite uma orientação a Alfred:

- Alfred, tente fazer com que o computar deduza a linha mais provável dessas impressões, revertendo o processo de envelhecimento. Tente simular alterações hormonais, alterações por produtos químicos diversos e tudo o mais que estiver à sua disposição. Isso deve fazer que com a impressão se revele.

Era uma chance mínima de sucesso, mas Batman sabia que em uma investigação era preciso abordar os mais diversos cenários. No entanto, o que realmente intrigava o Homem Morcego era a segunda parte da mensagem de Alfred. Outro pesquisador, ligado ao campo de viagem no tempo também fora atacado e estava desaparecido. Isso levava Batman a algumas conclusões:

- Parece que podemos traçar um Modus Operandi aqui, Alfred. Quem quer que seja o responsável pela invasão claramente tem pretensões de viagem no tempo. Mas com que propósito? Um outro detalhe... podemos deduzir qual o próximo alvo, supondo que ainda não tenha sido atacado... Embora seja preciso um velocista pra fazê-la funcionar, a Esteira Cósmica no museu do Flash também pode se configurar um alvo... Entre em contato com o museu, Alfred. Irei investigar a outra pista Vejamos o que Ray Palmer tem a dizer...

Sem perder mais tempo, Batman deixa o laboratório de Nicols e se lança rumo aos céus de Gotham, enquanto aciona um comando para que o Batmóvel o esperasse num beco próximo. Um mal pressentimento começava a incomodar Batman. Assim que reunisse mais evidências, o Cavaleiro das Trevas acionaria a Liga da Justiça. Preferia trabalhar sozinho, mas aquela situação demandaria uma atenção maior. Viagens no tempo sempre resultavam em problemas...

Enquanto aguardava uma resposta de Alfred, o famoso Cavaleiro das Trevas partiu com o Batmóvel para localizar um dos associados da Liga da Justiça. No caso, Ray Palmer, mais conhecido como Átomo. A base de operações do brilhante herói da ciência era Ivy Town, no estado de Connecticut. Graças ao bólido motor do Batmóvel, o detetive de Gotham atravessou o estado de Nova Jersey em minutos. Enquanto estava a caminho da região da Nova Inglaterra, Batman recebeu novos reportes de Alfred. Contudo, eles não traçavam nenhuma luz sobre o caso.

- Patrão, Bruce. Eu utilizei uma ligação não rastreável para contatar o curador do Museu do Flash, Dexter Myles, que informou o roubo da Esteira Cósmica e que o Flash não foi mais visto em Central City. De acordo com o Senhor Myles, o Lanterna Verde esteve recentemente no local acompanhado de outro indivíduo fantasiado que atende pela alcunha de Comandante do Tempo. Os dois partiram assim que averiguaram a situação no museu. Esse caso parece mais intrincado do que imaginávamos, patrão. Mesmo com o realce do sistema, não foi possível encontrar registro das impressões digitais colhidas. Segundo as estimativas do próprio computador, o detentor delas teria nascido em 1866.

A primeira vez que usaram comparação de digitais para solucionar um crime foi em 1858, mas o procedimento só foi incorporado oficialmente pelas autoridades 31 anos depois. Para que um registro de impressões digitais fosse criado levou ainda mais tempo. Portanto, era possível que alguém nascido em outro século não pudesse ser identificado daquela maneira. Mas a pior constatação era a de que Flash também estava desaparecido. Também causava estranheza o fato de que o Lanterna Verde foi visto ao lado de um inimigo como o Comandante do Tempo.
No passado, Batman e Lanterna Verde uniram forças para frustrar os planos do Comandante do Tempo de alterar o tempo. No fim, os dois destruíram a ampulheta do Comandante do Tempo, o que impediu o vilão de transitar pelo tempo novamente.
Batman imaginou que o Lanterna Verde tinha bons motivos para envolver o Comandante do Tempo naquele caso. Diante dos últimos informes, Batman teria que decidir entre verificar a situação de Ray Palmer ou se contataria o Lanterna Verde para obter mais informações.